Mensagens

DO CONTRA, SEMPRE

Imagem
 Quando eu estava gorda, estava gorda, era a primeira a dizê-lo. Pior mesmo foi quando me chamaram burra, feia, antipática e disseram que não servia para nada. Ainda era criança e acreditei. Creio que me “fiz” mesmo burra, feia e antipática para dar razão às minhas crenças (e às pessoas que mas impingiram). Foi preciso muita Psicoterapia, muito Grupo de Auto-Ajuda, muita Biodanza, muita Expressão Dramática, muita sabedoria ancestral, muito cuidar dos outros com sucesso e finalmente a Astrologia para me mostrarem que Sirvo Para Alguma Coisa, que Sou Inteligente… que se calhar até sou bonita… Até deixei de ser gorda…!!!! Já não vou em “waves” sejam de que espécie forem. São pura areia para os olhos, mesmo quando parecem muito justas, muito feministas, integralistas. Cheias de moral oca… Que julga e condena os outros e que faz o contrário do que apregoa.

Hoje peço Coração

Imagem
Quase todos os dias passa à minha porta.  Pára, cumprimenta com um grande sorriso e fica, tentando comunicar comigo. Lá conseguimos, quando me lembro de ser simples e de perceber para lá das palavras, pois não há verbo a unir-nos, que ele veio do Paquistão pela força dos braços e da vontade, e eu não pesco nada de ”asiático”. Deixa-me sempre um sorriso e alperces. Outro dia mostrou que lhe doía muito as costas, do trabalho duro, e que não tinha dinheiro. Implorou ajuda. E eu ofereci aquilo que de melhor sei fazer. Foi como se tivesse o mundo ignorado nas mãos. As pessoas que sofrem, que são usadas como se fossem coisas. Quer dizer, na verdade há gente em circunstâncias ainda muito piores… Só tive uma parte delas. As costas com tantas dores, a lombar inflamada, os ombros e omoplatas muito inchados. Isto num corpo magro de pouco mais de 30 anos, num ser absolutamente gentil. Largado no Alentejo para trabalhar nos campos, ganhando miseravelmente e sem apoio de espécie alguma. Ia

Solidão

Imagem
  Chama-se solidão. Não há ninguém para ver, ninguém com quem falar, ninguém com quem passear.   Não há um olhar, um abraço. Costumo reagir mal quando pessoas que não me conhecem metem conversa comigo só para falar. Hoje, só por hoje, percebo solidão e devolvo o cumprimento, as flores, o coração. Afinal podia ser eu. Eu que até sou bastante solitária. (De certa forma sou eu.)

Ode a Mim

Imagem
Posso prescindir de sapatos, de restaurantes, de pinturas para o rosto, da Liberdade não. Posso prescindir de televisão, máquina de lavar loiça, daquele vestido tão giro, da Dignidade não. Prescindo de hotéis, guias turísticos, tudo o que for de luxo, da Escolha do Meu Caminho não. Prescindo de conversas de treta, de amigos da onça, de Abraçar a Vida em toda a sua plenitude não. Prescindo da sabedoria dominante, das suas escolas, dos seus doutores, da sua política, da Minha Vida não. Hoje escolho honrar-me e honrar todos aqueles que lutaram pela dignidade dos seres e pela liberdade, fossem quais fossem as circunstâncias. Não sei que virá a seguir, sei que o meu caminho sempre foi este e vai continuar a ser. Nem sabia o que era isso e já sofria pelos animais maltratados. Ainda era criança e já era do lado dos ciganos que ficava, dos meninos mal-comportados, de todos aqueles que eram marginalizados. Apenas tinha ouvido falar em homossexualidade e já me posicionava na bissexualidade, após

Presto-te homenagem, pai

Imagem
Hoje presto-te homenagem. Presto-te a homenagem que em vida nunca fui capaz porque não consegui ver. Porque não conseguia ver que para lá de um rosto normalmente ausente, triste, cansado, duro havia uma vida não vivida na sua plenitude, havia sonhos não realizados ou até nem sequer sonhados. Quando finalmente ficaste velho e sem possibilidade de trabalhar, então pudeste dar ao mundo um cheirinho de quem na essência eras: cheio de alegria, força, coragem, vontade ilimitada de viver em toda a sua pujança. Onde houvesse festa lá estavas a animar com as tuas canções, as tuas danças. Foi preciso adoeceres, daquela doença que fala de ressentimentos guardados no corpo e na alma, que é o cancro, para eu te conhecer. E valeu a pena. Esses dois anos valeram por todos os outros. Afinal gostavas de mim, consideravas-me, respeitavas-me, acreditavas em mim. E que força! Cada vez que saías da cama do hospital, sem massa muscular, só pele e osso, dizias: - Isto agora são três meses para ganhar

Gente de fibra em construção

Imagem
Ou: Assim nasceu uma Mulher Coragem Aos seis anos fiquei doente. Tuberculose, diagnosticou o médico. O meu avô tinha tuberculose, ter-me-ia contagiado. Comecei por um comprimido ou dois (não me lembro), passei para 3 ou 4, depois para 4 ou 5 mais umas injenções e a minha heroicidade começa com estas injecções. Vivíamos na altura num monte alentejano onde a minha mãe “dava escola”, como se diz no Alentejo. Era professora, portanto, e ensinava meninos dos montes em volta, de todos os níveis de ensino, num espaço improvisado para o efeito junto à feitoria. No primeiro ano vivíamos num quarto ela, eu, a minha irmã e depois também o meu primo e dormíamos todos na mesma cama. No segundo o meu pai foi lá ter e aí passámos para uma pequena casa.  Foi nessa casa que começou a fase das injecções. Como não havia médicos nem enfermeiros, tinha que ser ela própria a dar-me as ditas. Ora ela mal agarrava na seringa começava a chorar e a tremer e a dizer que não era capaz. Então eu, nesta altura já n

Destemidos

Imagem
No aniversário do meu filho, gosto de lhe mandar fotos de tempos que ele não lembra e às vezes nem eu, como é o caso desta.  Gostávamos os dois de brincar aos circos e de fazer equilibrismo.  As outras pessoas assustadas costumavam dizer:  - Não faças isso, o menino cai.  Mas o menino nunca caiu.  Olhando agora esta foto, penso que talvez ela explique como o meu filho é corajoso. Aqui tinha um pouco menos de dois anos e estava num equilíbrio perfeito, sustido pela mãe. Fomos sempre dois cúmplices. - Era como se eu lhe dissesse: voa, voa, eu estou aqui, nada te pode acontecer. Ainda não nadava mas já saltava para dentro de piscinas ou de rios, sem pé. Claro que ia de braçadeiras, ou eu ou algum amigo estava lá para o agarrar. Eram voos seguros, mas eram voos. Até que chegou o dia de voar sozinho e nunca mais parou. Outro dia falámos sobre o medo e ele disse-me que em geral os amigos se escandalizam quando lhes conta as nossas peripécias. - Porquê? – perguntei eu. - Porque têm medo. E ho