As águas de Carcavelos hoje tiveram-me sereia e eu tive-as como sou. Amo sentir os seios beijados pela água, sentir o ventre afagado e as entranhas saboreadas por estas torrentes de pureza líquida e sal. Amo deixar-me embalar, pés na areia, rosto ao sol e ao ar, pelo colo tão acolhedor e suave das ondas do meu mar. Sou da água. Nunca poderia viver onde não habitem rios, nascentes, ondas. Foi dela que nasci e é ela que me cuida e cura. Mais que a terra, a minha mãe é a água. Mais que árvore sou peixe, sereia, gaivota. Sou do mar. Sou infinitamente mar.