Semeio-me quase nua
Aprendi com mulheres a olhar para a Lua e a saber que sou como ela: tenho os meus ciclos de 28 dias, ora em expansão, culminando na grande festa da Lua Cheia, ora em retracção até à Lua Nova, onde um velho ciclo se enterra e outro, novo, nasce.
Que a Lua Nova é tempo de semear, semear renascimento, intenções.
Hoje, Lua Nova em Virgem, eu semeio-me quase nua.
Deixei finalmente para trás os restos de falripas tingidas de castanho e dei espaço total ao meu cabelo verdadeiro.
O rosto continua imaculado.
Sempre tive esta coisa de gostar do que é natural e simples. Pé descalço ou com sapatos-luva, roupa confortável, tal como a que trazemos ao nascer; cabelos livres, tudo livre.
Consegui resistir a muito, mas não a tudo, e os últimos anos trouxeram-me de cabelos coloridos, envergonhada pela branquidão que ganhava cada vez mais espaço.
Grata a quem fez da cor natural moda e assim me devolveu o meu próprio cabelo.
Que disparate esse de às vezes me lembrar de querer parecer o que não sou. Como se fosse vergonha ser eu. Como se fosse vergonha ser natural e simples. Às vezes brilhante, outras tão pequenina, por vezes explosão de raiva, outras transbordância de puro amor.
Hoje semeio-me quase nua. Com a nudez que já sou capaz de semear. Com um amor imenso no peito que apetece dar colo ao mundo inteiro e a aceitação das explosões de raiva contra a injustiça, contra cada pessoa que maltrata ou negligencia outras ou outros seres ou o planeta; com um sorriso imenso por todos que fazem coisas boas, pelas crianças e idosos que riem com vontade e os namorados que se amam em estado puro.
Hoje semeio-me quase nua, feliz, livre, amorosa, sem fronteiras, ilimitada, abundante.
Hoje semeio-me abraçadeira do mundo inteiro e descobridora da beleza que há em cada coisa.
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