Hoje peço Coração
Quase todos os dias passa à minha porta. Pára, cumprimenta com um grande sorriso e fica, tentando comunicar comigo. Lá conseguimos, quando me lembro de ser simples e de perceber para lá das palavras, pois não há verbo a unir-nos, que ele veio do Paquistão pela força dos braços e da vontade, e eu não pesco nada de ”asiático”. Deixa-me sempre um sorriso e alperces. Outro dia mostrou que lhe doía muito as costas, do trabalho duro, e que não tinha dinheiro. Implorou ajuda. E eu ofereci aquilo que de melhor sei fazer. Foi como se tivesse o mundo ignorado nas mãos. As pessoas que sofrem, que são usadas como se fossem coisas. Quer dizer, na verdade há gente em circunstâncias ainda muito piores… Só tive uma parte delas. As costas com tantas dores, a lombar inflamada, os ombros e omoplatas muito inchados. Isto num corpo magro de pouco mais de 30 anos, num ser absolutamente gentil. Largado no Alentejo para trabalhar nos campos, ganhando miseravelmente e sem apoio de espécie alguma. ...