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A mostrar mensagens de agosto, 2019

Desabafo

Como é que alguém pode celebrar a morte? É algo que seguramente nunca entenderei. Está absolutamente contra a minha natureza que dá vida. Quem dá vida com esse absoluto gozo de dar vida, como poderia ser pela morte do quer que fosse? Morte não natural, não compassiva, bruta? Como poderá alguém que gera vida gozar com a morte de outro ser? No Coliseu de Roma pude entender a capacidade de existir em simultâneo a melhor e a pior versão do homem. Assisto a esse espectáculo a cada dia. Conseguimos fazer coisas tão boas e outras tão absolutamente horríveis. Que raio de invenção esta coisa de ser humano. ....... Desabafo na sequência deste incrível comentário no Facebook pelo Presidente da Junta de Freguesia da minha terra, muito bem acompanhado de homens e mulheres de sorriso em punho: Em Barrancos hoje morrerem dois 🍷 "")

Semeio-me quase nua

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Aprendi com mulheres a olhar para a Lua e a saber que sou como ela: tenho os meus ciclos de 28 dias, ora em expansão, culminando na grande festa da Lua Cheia, ora em retracção até à Lua Nova, onde um velho ciclo se enterra e outro, novo, nasce. Que a Lua Nova é tempo de semear, semear renascimento, intenções. Hoje, Lua Nova em Virgem, eu semeio-me quase nua. Deixei finalmente para trás os restos de falripas tingidas de castanho e dei espaço total ao meu cabelo verdadeiro. O rosto continua imaculado. Sempre tive esta coisa de gostar do que é natural e simples. Pé descalço ou com sapatos-luva, roupa confortável, tal como a que trazemos ao nascer; cabelos livres, tudo livre. Consegui resistir a muito, mas não a tudo, e os últimos anos trouxeram-me de cabelos coloridos, envergonhada pela branquidão que ganhava cada vez mais espaço. Grata a quem fez da cor natural moda e assim me devolveu o meu próprio cabelo. Que disparate esse de às vezes me lembrar de querer parecer o

Amor pela água

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As pessoas que me dizem "Cuidado!" quando digo e mostro que passeio pela Barragem do Pisão (em Beringel) e nela me banho, que dirão deste salto do meu filho para uma poça de água nunca antes vista, algures na Indonésia? Está-nos no sangue este amor pela água. Sei de em pequena me perder pelos campos e me banhar em tudo o que encontrava. Lembro-me de uma onda em Sines me ter derrubado, de me terem assustado com os hipotéticos malefícios de um lago e de ter levado uma sova depois de me deliciar num tanque de ovelhas. Nada me fez ganhar medo. E assim que me fiz maior de idade, de polegar no ar lá rumei ao Gerês. Pelo caminho, dei-me a conhecer ao Lima e ao Cávado, e já chegada conheci o Homem, o Caldo e o próprio Gerês. Daí para cá nunca mais parei. Trato por tu quase todos os rios da nossa terra e acrescentei-lhes diversas albufeiras. Já o meu filho logo aos dois meses conheceu o Rio Alva, ali para os lados da Serra da Estrela, as piscinas da Lousã e não sei que mais, que

Pinturas

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Hoje peguei no cavalete e fui para a rua pintar. Eis os quadros que saíram. Gostava de lhes colar palavras, mas faltam-me. Uma felicidade tranquila acompanhou-me todo o tempo, e a sensação de privilégio por poder viver isto. É, para poder viver isto é preciso estar aqui, na minha terra, mas isso não chega. É preciso amar os espectáculos que brotam da fonte de todas as coisas. É preciso ter olhos sedentos de beleza e coração aberto a ela. É preciso trazer Deus no peito ainda que não se saiba.

Hoje estou babadérrima

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Peço muita desculpa por em vez de incêndios vir falar de coisas boas. Mas é o que me apraz. (E pronto, o segundo parágrafo é já um aparte. Quando o meu filho era adolescente, chamavam-se aos jovens de então “geração rasca”, e dava-se notícia de uma data de rasquidões. Com 19 anos fui a um jantar de gala que um grupo da AIESEC, liderado por ele, organizou. Conheci uma série de jovens entre os 18 e os 21 anos, empreendedores, educados, inteligentes, alegres, solidários, e já então bem-sucedidos. Disso não se falava, só dos que caiam de bêbados e dos que traumatizavam outros. Quando me mudei para o Alentejo encontrei um cartão desse jantar. Diz assim: “A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos.” “Uau!” Pensei. “Entendi isto há tão pouco tempo e o meu filho já o sabia aos 19 anos!” Não, destas coisas não se fala, porque elas não vendem

À porta da igreja

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Sim, o céu dá minha terra no Verão é por largos minutos cor-de-rosa. Como é que eu não sabia que há céus cor-de-rosa? E logo o da minha terra?! Talvez porque nunca saberei tudo. Nunca saberei muita coisa mesmo debaixo do meu nariz, ou até dentro de mim. Que felicidade um céu cor-de-rosa

Transformando fogo que queima em amor

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Diz que a Amazónia está a arder. Bom, acho que somos nós que estamos a arder. Jamais viveremos sem terra, sem ar, água e sol; sem árvores, pássaros, peixes e outras pessoas. Cada pedacinho do universo que arda, morra, sofra, nós também sofremos com ele. Imagine-se a Amazónia, imensa; a imensidão do sofrimento dela... nosso. Fazer o quê? Que posso EU fazer? Talvez seja uma boa pergunta para cada um se fazer a si próprio, sobre o incêndio na Amazónia e sobre os incêndios contínuos, cada um de seu género, que acontecem pelo mundo. Fogo a queimar, é raiva, é ódio a manifestar-se. Aprendi com Dalai Lama e seus discípulos que estes sentimentos são transmutáveis pelo seu oposto. Se o ódio dos corações der lugar ao amor, não serão necessárias guerras, nem fogos, nem incêndios, nem violentações de qualquer espécie. Não sei se é possível transmutarmos assim tanto, aliás não sei nada, a não ser que não quero que o meu fogo seja incendiário e que ajude a destruir. Quero-o antes f

Impudoramente bela… só para mim

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Hoje é dia de lua cheia em Aquário, Sol em Leão (que é como quem diz, sol em mim, lua cheia a iluminar o meu inconsciente). Fui até à barragem, tomei banho, dei banho ao carro, e quando ia tirar fotos ao sol a pôr-se não pude, que o telemóvel tinha ficado em casa. Um pôr-do-sol só para mim, pensei; uma Lua Cheia só para mim. Concentração na pessoa mais importante da minha vida em vez de concentração no resto do mundo, como tanto gosto. E foi assim que assisti ao mais incrível espectáculo da lua que já vi: lua da mesma cor do sol. Enorme, imensa, um laranja de fogo. Escancarada no céu em todo o seu esplendor, desnuda, descarada, impudoramente bela… só para mim. Aceitei o seu pedido e namorei-a longamente. Sol eu, lua eu. Amantes. Em deleite. Voltei para casa. Um medo do escuro que ando a descobrir e a fome mandaram-me para casa, e ela, seguramente triste pela minha partida, demorou a reaparecer. Continua bela, intimidante, mas bem mais pequena. Ao contrário das pessoas, a lu

Hoje fui rebaptizada

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Acho que sempre houve em mim comunhão com o divino. Tive-a conscientemente em criança. Lembro-me de ir à igreja e sentir tudo muito. Fui baptizada, fiz a primeira comunhão, confessava-me, comungava, lia na Igreja, tudo de forma imensamente devocional. Pelos cinco ou seis anos, numa igreja Carmelita, vendo as freiras reclusas, achei que queria ser freira quando fosse grande. (Talvez pela mesma altura vi teatro pela primeira vez na minha terra, e sonhei estar ali no palco. Decidi que queria ser atriz de teatro. Foi assim que nas redações da escola eu escrevia que queria ser freira ou atriz de teatro, e as pessoas riam – e eu própria quando me deixei contagiar pelos sentimentos das pessoas, por serem coisas tão diferentes. Hoje entendo que é normal termos interesses diferentes e que ser actriz é tão sagrado quanto ser freira, e que posso praticar ser um pouco de ambas.) Com o 25 de Abril e essa coisa de termos que ir todos para um lado e a religião ser “o ópio do povo”

Ser acção no mundo

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Jamais conseguirei retribui o que a natureza me dá Foi um dia bonito de trabalho o que tive hoje, porque pela primeira vez pude cuidar de uma mulher da minha terra. Uma mulher mãe, filha, irmã, esposa… Uma mulher como nós mulheres tradicionalmente aprendemos a ser: ser doação, pôr sempre os outros à frente, e só quando o corpo grita muito, ou se recusa a andar, olhamos para nós.  Falo dela como falo de mim. Continuamente me esqueço que também sou de carne, osso e emoções e que também preciso ser cuidada. Vim para Beringel porque aqui tenho pelo menos a natureza todos os dias disponível para me cuidar. E assim fiz hoje. Depois do dia de trabalho, entreguei-me no seu colo de mãe serena, bela, generosa. Fiquei por mais de uma hora com ela só para mim: a sua água doce, o sol morno, a terra quente, verdejante, e o ventinho, delicioso, a brincar com os meus cabelos e a cantar-me ao ouvido. Feliz. Mantive-me por ali feliz, sentada na minha cadeira de praia, e depois em posturas de yog