A vida da rosa


Acordei, abri a janela de par em par e lá estava ela, a olhar para mim, a dar-me os bons dias. Fiquei tão feliz. Falou-me de paz, de harmonia de beleza, isto nestes dias em que o meu coração e pensamentos teimam em juntar-se à confusão lá fora.
Demorei-me nela.

Dia após dia foi-me dando os bons dias, sempre bela, sempre cheirosa, inspiradora.

Ontem continuou a dar-me os bons dias, mas já sem a beleza anterior. Já cansada, um tanto gasta, a dizer-me: Está a chegar ao fim o meu tempo de vigor. Estou a ficar velha, ainda sinto, ainda cheiro, ainda te amo e gosto do teu amor, mas um destes dias transformo-me em estrela. O corpo fica aqui na terra e a luz junta-se às luzes sem corpo que há no céu. Porque, explicou-me ela, as rosas também se cansam de ser belas, também precisam de repousar em pura luz.




As rosas, continuou, as pessoas, os pássaros, até os rios e as montanhas se vão cansando. Não adianta não querer morrer, até porque nunca se morre verdadeiramente, há sempre a luz que continua lá em cima na infinitidão dos céus, e o corpo, cá em baixo, vai dar luz a outros corpos. 

Nada se perde, nada, nada. Só se perde mesmo a alegria quando não se aproveitam os dias; a beleza, quando o coração se enche de mágoas; a harmonia quando não se deixa a vida ser livremente vida, com as suas pétalas de cheiro e os seus espinhos.

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